terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Saber prosaico - 131209

Semeio os frutos do porvir
calcados nos sentimentos maduros

Prefiro não comentar
o que acontece no fundo das idéias
que sopram ao sabor do pensamento

Prefiro dizer que o pensamento
rodeia o mais alto escalão da natureza e bombeia
nos recintos amorosos da consciência


A cúpula do pensamento ocioso
condena o coração ao exílio burlesco da história
que emerge no meio da rotina desidratada
da coréia malsã


Falo no suborno da idéia
contemplada no desvio do pensamento
com lapsos de memória auferidos
dos pequenos momentos de lucidez
caída na hora incerta da vida

Falo no encontro sutil dos corações
regados com a essência colorida da paz
que regenera o ínfimo do ser e atrela
o bem do credo
temperado na doçura do tempo


Penso na alegria da descoberta
do ponto crucial da emenda literária
que aborda rimas condecoradas
nas esquinas mágicas do saber
esvaído nas gotas
da memória

Gotas da memória que se diluem
nos quatro cantos do mundo e sopram
os ventos da liberdade embutidos nos condados
inscritos nas rezas do infinito pensar


Existência que flui das rochas
em erupção e lavam as termas do coração
com o leite da vida que clareia alma e pensamento
nas dobras serenas do amanhecer
onde pulsam faróis da ilusão
que acendem a fogueira encrespada
das horas eternas


O agora e o nunca se sucedem
num turbilhão de melodias que ressoam
nos dias austeros da eternidade

Agora ou nunca embalo
todas as idéias estocadas
no balaio da esperança
Crescidas de dentro para fora
batendo agora nos castos porões luzidios
das longas madrugadas

Sem nunca saber se é verdade ou mentira
por que me aturo ou me atiro sem pestanejar
nas águas do pensamento

Para sobreviver ao nunca
sem desbotar a consciência

Sem desmaiar na minha essência
sem deixar restos sofridos
ou carência de amor
diluído nas faixas
do coração

No agouro do nunca esqueço as farpas
da ilusão e me prostro em pé de igualdade
com a hegemonia do ser
em ascenção


O topo da igualdade
semeia dons
amadurecidos no tempo


Enlaço a sabedoria ancestral
movida pelos apelos bíblicos da memória
envolta nos panos do esquecimento

Sabedoria que escorrega no corrimão
da saudade e cai florida pelas pétalas do sentimento


A ilusão destila o veneno
da ousadia
nos invernos da vida

Traz consolo nas desditas
nas carícias e conquistas

Molha os recantos secos
com os encantos perolados da alegria


Entremeio fim e início e semeio os frutos do porvir
calcados nos sentimentos maduros

Percorro a existência à procura
do ser maior

Percorro o A e o Z da existência
à procura do ser maior
que me sustenta e dá arrimo

Percorro as rotas do sol
em ritmo acelerado


Traço meu rumo em torno da esfera
do pensamento e marco passo no espaço criativo
do saber prosaico


Me dobro ao destino das ruas
espelhado na lanterna da sabedoria

Não quero pensar na agonia
de não pensar


Quero rezar a reza
de todas as horas

Quero luzir
com os astros e cantar com os pássaros

Quero galgar a torre do pensamento e despencar
nas águas da inspiração para beber os sais criadores
da poesia e voar num tapete bordado
de poemas


Estou só e me sinto só
por um momento íntimo do pensamento
Estou só
mas não tão só que não possa erguer a voz e dedilhar
mais versos pelo universo

A sós me vejo e só me vejo
quando os clarins da aurora me acordam
com os lampejos do dia

No cós da aurora me enlaço e traço pegadas
com trajetórias supridas de rimas


Quero o encontro primaveril do amanhã
com as rimas da solidão

Quero o coração do mundo
sempre encostado ao meu ouvido
com apelos melodiosos
esculpidos nas paredes da alegria


Burlo a hora
que descansa saudosa
na trilha monótona da vida

Pesco a sabedoria
ancestral e recomponho a peça
esquecida da vida

Solto o verbo
criado na madrugada
poética

Pinto segredos e mistérios
na aquarela do tempo


Aguardo o chamado da existência
para reverter o quadro da histeria dos versos

Não paro nem começo
me arremesso de ponta cabeça ou me elevo às alturas

Não saio nem permaneço
marco passo e ando no compasso


Besunto o meu saber com óleo máter
que ensaboa rimas e desfila auroras
nos poemas

Sou da vida o serviçal que cria e é criado
para doar sua alma poética

Sou serviçal sem talismãs para ofertar
sem segredos para ocultar
sem receios ou medos

Sou serviçal e me enredo nos poemas
para chorar ou cantar

Sou aio
sou lacaio

Sou


Mudo a tudo
mudo tudo

Mudo meu sol mudo meu chão
escorrego nas farpas
do coração

Só não mudo o meu tudo
por nada deste mundo

Só não mudo porque mudo
a este mundo
não sou.

Nety Maria Heleres Carrion

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