Envolvo céu e terra
com o universo teimoso
do olhar que me segura
que saltita nos ares e dispara
cascatas de ilusões
Libero a consciência e me delicio
e adormeço enclausurado
no tempo sem ida
nem volta
Não penso na consequência
qualquer que seja
o desfecho
Fecho o livro tremido com a fala
que o absorve gole
após gole
Engulo os farelos
de sua fala
Concluo obra por obra e passo
fantasia chorosa
Acordo sem teto e sem chão
cada vez que o coração
é tomado pela emoção
O que me segura é o tudo
é o nada
É o desperdício na calçada da fama
que oscila nos portões secretos
da noite
No espaço poluído sobra o resíduo
da esperança atraído pela melodia
do poema
O que me segura são os ais
do mundo e a cultura
posta nos jardins
da existência
No espaço sem fim o que me segura
são as cores do mundo que ensaiam
coreografias jogadas no tempo
A aurora adoça céu e terra na entrada
da primavera da vida
Enquadra céu e chão numa divisão
bastarda
Bisbilhota dia e noite os dons da paixão
que alimenta a hora criada num tempo
passageiro e funde
pão e palavra
Acordo
sem teto e sem chão
cada vez que o coração
é tomado
pela emoção.
Nety Maria Heleres Carrion
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