terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Farelos da fala - 19022010

Envolvo céu e terra
com o universo teimoso
do olhar que me segura
que saltita nos ares e dispara
cascatas de ilusões

Libero a consciência e me delicio
e adormeço enclausurado
no tempo sem ida
nem volta

Não penso na consequência
qualquer que seja
o desfecho

Fecho o livro tremido com a fala
que o absorve gole
após gole

Engulo os farelos
de sua fala

Concluo obra por obra e passo
fantasia chorosa

Acordo sem teto e sem chão
cada vez que o coração
é tomado pela emoção


O que me segura é o tudo
é o nada

É o desperdício na calçada da fama
que oscila nos portões secretos
da noite

No espaço poluído sobra o resíduo
da esperança atraído pela melodia
do poema

O que me segura são os ais
do mundo e a cultura
posta nos jardins
da existência

No espaço sem fim o que me segura
são as cores do mundo que ensaiam
coreografias jogadas no tempo


A aurora adoça céu e terra na entrada
da primavera da vida

Enquadra céu e chão numa divisão
bastarda

Bisbilhota dia e noite os dons da paixão
que alimenta a hora criada num tempo
passageiro e funde
pão e palavra


Acordo
sem teto e sem chão
cada vez que o coração
é tomado
 pela emoção.

Nety Maria Heleres Carrion

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