De onde vem o pensamento?
O pensamento vem
da insalubridade do olhar
Que mastiga venenos
com menos
ou mais sais ou virá
Das tempestuosas acústicas
que rompem os tímpanos
da memória e galopam
rumo ao desconhecido
que habita ar e terra
O pensamento atordoa
a imaginação e se debruça
num voo infinito
Preenche o vácuo da inspiração
com ondas sonoras da poesia
Que hiberna nas cavernas e flutua
ao sol e ao vento na ciranda
das rimas
Busca o atol das emoções e dá
alento mágico aos poemas.
A busca permanente pelos sobreviventes
da fé embala o coração do mundo
Alteio a voz e cavoco a rocha celeste
pisando nas florestas virgens
da imaginação
Desço os veios subterrâneos do pensamento
retidos no pisca pisca das horas que semeiam
os frutos apocalípticos das rimas
patenteadas nos poemas
E nesse acordo soberbo o mundo acorda
coroado pelos selos aristocráticos
da poesia
Amoldo as sílabas do verbo e construo
os alicerces que dão alvura
aos desejos da criação
Invisto nas pérolas da criação num misto
de prazer desnudado na hora eterna
da poesia
Renovo as células da imaginação
com imagens perenes do cotidiano
O sopro de luz mascarada na sombra
seduz visitante
Creio no ser maior creio
em mim e no mundo
Creio nas horas do tempo que espetam
o pensamento e despejam sabedoria
nos credos da criação
Desentravo palavras frases e travo batalha
rumo à calha da poesia onde rodopiam
sem destino até encontrar senso
mágico que as fortalece
As letras em desatino caem nas valas
do destino se desdobram e se agrupam
para formar o tino da poesia
Em liberdade amadurecem e retornam
com rimas nupciais em lua de mel
com as rimas enroladas
no carretel da poesia
Escolho o caminho mais curto para a felicidade
que se arrasta nos cantos da casa e com seu bastão
toca o teto do mundo
Escolho rosas para enfeitar os caminhos
por onde passo
Faço de mim um calvário de lamentações
criado num oceano de emoções
Varro o chão da maldade para fora
da felicidade que anodoa os picos
mais altos do coração
Sou a gota da felicidade que desliza de mansinho
sobre os novos tempos à procura de um ninho
para chocar todas as verdades e sacudir
os limites da redenção que enlaça
os viveiros ordeiros do falido
retrato da felicidade
Procuro no escuro o porto seguro
para ancorar meus desejos
Resguardo a doçura dos tempos maduros
que cruzam os ares e recuso ofertas falsas
de felicidade cujo teor emprega
banalidades proferidas
em discursos
Durmo de costas para os eventos que golpeiam
os vitalícios desejos junto aos amistosos corações
centrados nos campos reais da felicidade
que habita a mansão do saber
Sou isca da verdade nos quatro cantos
do mundo
Na pesca cuidadosa e vazia a maresia
da vida retalha sem antecipar saída
sem fugir da raia
Sou aio de tudo
Saio para fora do meu eixo e consagro os dons
para uma viagem pelo mundo da solidariedade
espargindo sons de felicidade
pelos caminhos de espinhos
Enquanto o mundo gira gira a cabeça em sintonia
com o universo das emoções emparedando
os corações nas vinhas da caridade
Discursos desprovidos de conteúdos
céus e terras conselheiros
na hora incerta
Passam perto e atropelam os mitos
da descrença com o bastão
da coragem
Lidero a turma
do faz tudo
Emprego os dons do mundo para colher
frutos condecorados pela mágica
das idades
Expulso a gula dos desejos burocráticos
de rituais macabros
A noite geme nos subúrbios
e nos castelos
Inunda o bem e o mal em sintonia
com a razão que cobre
desvios e acertos
A poeira do sentimento levanta e toca o sino
de recolher em todos os rincões
amaciando rochas
nas constelações
Nety Maria Heleres Carrion