quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Noites de cristal - 240907



O coro flutua
feito nua pérola
na rua

Gota a gota atrofia o leite
que escorre das mãos e cicatriza
feridas do tempo com o intento
de pernoitar no espaço

No leme da vida acorda e dorme
embalado pelo tempo
ao lado desta vida que leva
nesta ida sem volta

Gira nos giros da porta
nas desovas de grilo brinca
com o estigma de ferrolho
justiceiro

Num céu em fogaréu
aniquila menestrel
na harpa celeste

Coro angelical onde encenam-se
comédias sem remédios
Filhas hilárias da turba
em cuba encubada
Sobre o palco espectral
figura mítica
em passagem sideral

Paradoxal tema cósmico
fantástico
que eleva o astral

Num repente estratégico
gota de marfim seduz
viajante canoro

Traça caminhos
cruza espinhos
no conforto paradisíaco

Tramas cadentes nas rotas
truncadas sem ritmo

Içadas belezas sem mel

Estertor sem labéu
na harpa do tempo.
Passos lentos emparedam rimas
aquecem mortais e no compasso
das horas amortece
a morte do dia

Enrosca a rosca de papel e parte
num véu de nuvens enrabichada
no rabo de foguete

Sons cores e palavras vestem
versos estrofes com frases
pomposas de poemas

Rego fantasias régias
teço peregrinas
poesias
no tear das ilusões


Miro palácio encantado
embebido de luares que gotejam
no cordel do tempo


Mina a mina
num mar de acordes
em cima da sina
da criatura

Sol de rima
solta clave e serpenteia
andares multicores

Sons
em noites de cristal


Andarilho em busca
do abrigo que me sustente e guarde
na trilha

 
Peregrino
pelos montes desmontado
busco seio amigo que me liberte
do perigo.


Mas enquanto houver voz dou jeito
de sugar do peito amarelecidos pensamentos
que se juntam a devaneios perdidos
na imensidão dos tomos
cerebrais líricos

Sacudo e balanço emoções silábicas
da memória

Retomo reparto enceno
versos do cenário

Copio brilho deliro
poemas

Com passos lentos anoitece
a guerra e alvorece a paz.


Amo tanto essa terra adorada
que se um dia meu tempo acabar
quero levar dessa estrada esse chão
banhado de seres que o futuro reluz e atinge
com olho maduro dos idos e vindos

Conservo o fel da esperança
no topo da alegria

Perfumes florais na hora
da Ave-Maria

E na ordem do dia descem querubins
para saudar a estrela da paz.


Entre flores falas rimas
sons cantos melodias
saúdo e cubro com manto
olhares sequiosos de paz

Brilho talento ordeiro
som da pátria gentil hospitaleira
em cima do que digo e faço
traço abraço
assino e registro algo pensado
decorado em desatino
nessa gentil e hospitaleira
terra.


Dançam águas nos gelados ares
da inspiração

Solta desfia e solta o lacre
das emoções

Crepita e abre a poesia
com madeixas sonoras

Sou pomba na calçada
cisco migalhas de poesias

Nutro eras de alegorias
tiro o chapéu dou graças
sou menestrel da alegria

Essa trilha dedico às multidões
que dobram a esquina

Acendo velas do pensamento
reacendo perfumes

Nesse entrevero entrevejo palhoça
bamboleio acordes da fama
súditos parceiros exaltam
obreiro de alma crua
na tempestuosa rua.

Nety Maria Heleres Carrion

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