chacoalho o meu eu
para que ele se desloque
me acaricie e com agrado
me deseje tudo de bom
que o embalo tem
Pelos atalhos me equilibro
sem noção do perigo
sempre à espreita
para colher ofertas
de fantasias
Destino incerto e caprichoso
bebendo águas de rosas
Meu pensamento voa pelos ares
pelos continentes
pelos mares e dá sinal
no espaço redondo da liturgia
que empresta graça e beleza
me embriaga
com voos e piruetas
O meu ser se agita
nos serões da madrugada
Na sarjeta do tempo
entrego tudo que não me diz respeito
Entrego meu braço forte
guarnecido de coragem
que sobrepuja templos de liberdade
costurados em dupla face
na outra face
do meu eu
Eu
face a face
com a face do mundo
E o que me espera é a febre do pensamento
que desperdiça imagens e alicia
realidades e fantasias
Desenha milagres nas cachoeiras da vida
que se jogam de cabeça
entre aplausos e vaias
entre aplausos e vaias
Despenteia a calma
das noites congeladas
no mistério encarnado
Doses maciças do sol da meia noite
com ternura e despojo
caem sobre a terra morna e rolam
clarinetando auroras
O mundo segue seu passo
não olha para trás nem para a frente
do poente ou do nascente
Metas que surpreendem
gregos e troianos
No lugar de canhões
harpas
nos tímpanos reluzentes da aurora
E assim me disperso nesse universo rico
onde cada estalo atrai palavras e consensos
para o som de todas as violas cantantes
num arrojo cadastrado nas mentes
E isso não é o fim do começo
de um sol que apaga e acende
no fundo de um lago fosforescente
que só diz respeito a mim
e ao mundo
E assim durmo e acordo
nesse mundo de fantasias
toldado pelo meu eu
toldado pelo meu eu
e o eu daquele
que me jogou do precipício
que me jogou do precipício
e me amparou ao rés do chão
Agora fecho as palavras
para que não caiam em contradição
e viajem na contramão
O que é e o que não é
pode ser contado ou calado
ante o espetáculo da vida
E assim fecho o livro
e me livro das horas mornas
que incendeiam meu pensamento
e depois vão embora
sem nem sequer dar satisfação
de seus atos
Nety Maria Heleres Carrion