A fé que transita
nas entranhas da alma sacode a poeira
recostada nos becos
das paradas soberbas e despeja sabedoria
nos biombos do amanhecer
Nem tudo que reluz traz o soldo do suor
que abastece os caminhos
recortados da vida
As preces mexem
com as visões temperadas
nas mentes orladas de passagens douradas
pelo sol da temperança
Os sinos que trovam na torre do templo
deslocam melodias nos badalos
das ruas
Digito saudade
nas teclas da imaginação
com tons da emoção
no coro sacudido
da lembrança
Sento meus olhos no escuro e depuro gosto
disforme do banquete extraviado
nas bodas desfeitas
Me recosto
na festa do riso e hiberno na moita dos sonhos
onde abraço a semente retida no templo de eros
mero espectador de cenas arcaicas
nas telas mágicas
dos estágios
febris
No trem da alegoria disparo os vagões
da fantasia revestidos de cantos e magias
assumidas nos apitos sonoros
Traço
meu compasso e valso
no ritmo do tempo
que transita nos reflexos foscos
das imagens nebulosas
do verão
Doso pranto e alegria no sustenido da vida
sem saber se me conforto ou me desfio
entre o tudo e o nada
começo ou fim
da jornada
O retrato
clandestino furta imagens descoradas
nas paisagens do dia
Por que
me arrasto a teus pés
Por que
me lanço para trás e no asfalto
dormido junto espigas e debulho
as sementes da vida
Por que
me roça o gemido
fisga ferida e sopra desditas
nas corbelles da vida
Por que
o belo me evita e só a sombra
me assiste onde o sonho pendura as agruras
nos fios da ilusão
Por que
o pranto cerceia as paredes do ser e regurgita
a dor ensaiada na aquarela
do tempo
Retoco
o ambiente com as cores que transitam
no meu ser
Nety Maria Heleres Carrion